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  • Foto do escritorDébora Palma

Estou só. Estou bem?


Solidão é bom? Depende do que você chama de ficar sozinho. Estar no seu canto, por livre e espontânea vontade, pode ser prazeroso e necessário. Já não ter com quem contar na vida costuma abalar o bem-estar.

Os introspectivos amam momentos em que podem dedicar-se a seus projetos sem perturbação de pessoas, coisas, sons... estímulos. Acontece que o sentimento agradável de "recarregar as baterias" quando da ausência de estímulos só tem o efeito positivo quando sabemos que poderemos contar com a presença de outras pessoas, dali a pouquinho...

Por isso, aproveitar o tempo para fazermos nossas coisas é uma coisa; já a solidão, ou seja, não poder contar com mais ninguém, é outra - e muito pior, com potencial devastador para nosso estado emocional e físico.


Banner com o texto: Solidão: quando estar só faz mal

A solidão é uma coisa tão séria que Theresa May, primeira-ministra britânica, criou um ministério só para cuidar do mal que ela define como "a triste realidade da vida moderna". O isolamento social involuntário atinge 9 milhões de britânicos (15% da população). Desses, 1 em cada 3, na casa dos 75 anos, afirma que o sentimento de não ter com quem contar está fora do controle.

Os números são muito expressivos quando o assunto é a solidão:

52% das pessoas afirmaram que gostariam de ter com quem conversar, 51% sentiam falta de ouvir risadas de alguém e 46% se queixavam de não receber um abraço. Uma em cada 4 pessoas no mundo não tem amigos para valer, vive longe da família ou se sente desconectada socialmente.

Por isso, encorajar pequenas conexões diárias, como cumprimentar desconhecidos nas ruas, agradecer pessoas que trabalham em estabelecimentos, convidar vizinhos para alguma atividade, telefonar para alguém solitário, desenvolver um trabalho voluntário são atitudes que fazem toda a diferença na vida de algumas pessoas. Além disso, quem é solidário dificilmente será solitário.


Julianne Holt-Lunstad, Universidade Brigham Young, nos EUA revisou estudos englobando 3,7 milhões de voluntários e concluiu que sentir-se sozinho faz tão mal à saúde como estar acima do peso, ser sedentário ou fumar 15 cigarros por dia. A solidão poderá atingir proporções epidêmicas até 2030.

A solidão age de diversas formas:

🧠No cérebro: a tensão e a tristeza aumentam os episódios de ansiedade, aproximando o indivíduo de quadros de depressão.

❤️No coração: a solidão profunda lembra um estresse crônico; a liberação de alguns hormônios afeta os batimentos cardíacos e a pressão.

🦠Na imunidade: existem indícios de que o estado criado pela solidão diminui a atuação do sistema imune, aumentando o risco de infecções.

Antes de o corpo sentir os efeitos da solidão, é provável que a desconexão social impacte a esfera mental: os muito solitários sofrem de ansiedade, fobia, depressão, pânico, etc. A solidão afeta uma área do cérebro, o córtex pré-frontal, responsável pela tomada de decisões. Pessoas que se sentem sozinhas tendem a dormir menos, se alimentar mal, abusar do álcool e levar uma vida sedentária.

Ainda que a solidão não seja uma doença em si (ou seja, não existe um medicamento para "tratar da solidão), existem medidas que podem ajudar a minimizá-la ou reduzir sua influência na saúde: fazer um favor para alguém, colaborar com algum familiar ou conhecido, buscar ajuda psicológica, praticar exercícios, adotar um animal de estimação, engajar-se em atividades ou grupos sociais, construir novos relacionamentos, entre outras.

A aplicação de políticas públicas eficientes para tratar da solidão também é uma ótima saída. Para Cecília Carmona, da Universidade Federal do Triângulo Mineiro:

"Estar só e sentir solidão são coisas diferentes. Estar só remete à ideia do prazer, relaxamento e satisfação. Já solidão é sinônimo de abandono, tristeza e desamparo. Sem o enfrentamento necessário, a solidão pode evoluir para a depressão e, em casos mais severos, levar ao suicídio".

Para John T. Cacioppo, psicólogo: "É impossível sobreviver sozinho. A dor física protege o indivíduo dos perigos físicos. A dor social, também conhecida como solidão, protegia o indivíduo de permanecer isolado", escreve em Solidão - a natureza humana e a necessidade de vínculo social (livro). "Os primeiros humanos tinham mais chance de sobreviver quando se mantinham juntos."

Com a evolução da espécie, a solidão tornou-se um fenômeno histórico. Condição incompreendida e estigmatizada, é vista com desconfiança por uns e utilizada como punição por outros. "Na escola, as crianças birrentas são mandadas para a biblioteca. No casamento, uma praga comum em momentos de ódio é: 'Você vai morrer sozinho!' No sistema carcerário, o pior castigo que existe é a solitária" - dá exemplos o historiador Fernando Karnal, em seu livro O dilema do porco espinho - como encarar a solidão.

Do ponto de vista médico, solidão não é doença, mas tem sintomas: choro frequente, perda de apetite, baixa autoestima, dificuldade de realizar tarefas no dia a dia, sensação de impotência... e pode ser classificada como crônica ou aguda. Ninguém escapa da solidão: ela chega na vida de todo mundo, seja adolescente (e com as mudanças de escola, separação dos pais), seja adulto (perda de emprego, saída dos filhos da casa, divórcio) ou na velhice (viuvez, aposentadoria).

Por tantos motivos, aqueles dez minutos de bate-papo podem realmente fazer a diferença para alguém - e também para você.

📚Para ler:

O dilema do porco espinho - como encarar a solidão. Leandro Karnal.

A experiência da solidão e a rede de apoio social de idosos. Cecília Carmona.

Solidão - a natureza humana e a necessidade de vínculo social. John T. Cacioppo.

Já passei dos limites?! Faça o teste abaixo para verificar se não é o momento de buscar por ajuda.

Faça o Teste da Solidão, baseado nos estudos de Daniel W. Russell (Loneliness Scale), da UCLA, nos Estados Unidos:

Responda às perguntas abaixo, pontuando de 1 a 4:

  1. Nunca

  2. Raramente

  3. Às vezes

  4. Sempre

Com que frequência você…

  • se sente só?

  • se sente tímido(a)?

  • se sente excluído(a)?

  • se sente isolado(a) dos outros?

  • sente que lhe falta companhia?

  • sente que não tem a quem recorrer?

  • sente que já não é mais próximo de ninguém?

  • sente que ninguém o(a) conhece bem de verdade?

  • sente que as pessoas estão ao seu redor, mas não com você?

  • sente que suas relações com os outros não são significativas?

  • sente que seus interesses não são compartilhados pelas pessoas à sua volta?

Some os pontos e confira a tabela abaixo:

Acima de 44 pontos - alto índice de solidão

entre 33 e 39 pontos - grau médio de solidão

abaixo de 28 pontos - baixo grau de solidão

❗️Lembre-se: a busca de relação de ajuda é fundamental - seja por meio de alguma atividade, seja por meio de psicólogos, seja por meio de uma ligação para alguém. Você também pode ligar para o Centro de Valorização da Vida (CVV), no número 188. A ligação é gratuita e anônima.

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