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  • Foto do escritorDébora Palma

A Cura de Schopenhauer - Irvin D. Yalom

Esta é uma boa sugestão de livro para quem se dedica aos estudos da Psicologia, Humanidades e Medicina. O livro é escrito tal como um romance, misturando a história dos personagens com história e obra de Arthur Schopenhauer.

Julius era um médico psiquiatra muito proeminente havia trinta anos. Era professor na Universidade da Califórnia, treinava estudantes e foi eleito presidente da Associação Americana de Psiquiatria. Era famoso e considerado um psicanalista de ponta, sagaz, muito disposto a fazer de tudo para ajudar seus pacientes - que eram atendidos individualmente ou em seu grupo. Apesar de falar um pouco sobre a terapia individual, o maior foco no livro (seu desenrolar da história) ocorrerá nas relações terapêuticas do grupo orientado por Julius.


Acontece que o médico é diagnosticado com um câncer de pele, e sua estimativa de vida é de cerca de um ano. Essa própria questão temporal é importante no livro, pois o desenrolar dos acontecimentos se acentua conforme o próprio tempo de Julius vai se esgotando.


Refletindo sobre sua condição existencial transitória, Julius percebe que tem consciência de si e do seu trabalho, mas encontra enorme dificuldade em lidar com a morte - condição que lhe foi imposta de forma abrupta e quase que violenta.


Foi buscar ajuda em livros e em seu trabalho. Começou folheando Nietzsche e na obra Assim falou Zaratustra, compreendeu que deveria usufruir a vida, no lugar de ser usufruído por ela; que deveríamos viver da melhor forma possível e, então, morrer finalmente.


As ideias filosóficas sobre viver e morrer não lhe acalmavam o espírito. Então, volta-se para seu trabalho como psicanalista e lê antigos arquivos de pacientes. Ele se lembrava de alguns (poucos) que haviam marcado sua vida e seu trabalho; um deles era Philip, um paciente que ele não conseguiu ajudar nos três anos em que foi seu paciente; e que, depois disso, parou de comparecer às sessões. Que fim teria dado com aquele paciente?


Quereria Julius provar seu valor como terapeuta? Estaria dando a si mais uma chance para ajudar aquele homem? Vai, então, em busca de Philip, personagem que fascina Julius sob diversos aspectos - e que modela lindamente a história, imprimindo-lhe rumos intensos e um desfecho que me emocionou.


O encontro com Philip mostra para Julius que, apesar das mudanças, aquele homem ainda lhe era um desafio terapêutico. Como compreendê-lo? Como comunicar-se com ele? E a relação entre ambos se inicia porque Philip precisava de horas de orientação para poder formar-se como profissional em sua prática de filosofia clínica; além disso, afirma que as ideias que estudava há anos sobre Schopenhauer (“meu terapeuta”) poderiam ajudar Julius no que dizia respeito à sua morte iminente. Julius, depois de muito hesitar, concorda em orientar Philip, com a condição de que ele frequentaria seu grupo de terapia.


A presença de Philip e suas ideias aparentemente duras demais (ou racionais demais), causa espanto naqueles participantes. O próprio Julius sente bastante resistência da filosofia de Schopenhauer; teria sido este o efeito real da teoria sobre as pessoas de sua época? O processo terapêutico grupal caminhará com conflitos até chegar a um momento em que as ideias não são mais vistas como contraditórias - e por isso precisando ser combatidas - mas como possíveis de coexistirem. E é conforme o livro vai chegando ao final que a transformação (de Schopenhauer e dos participantes) vai se acentuando rumo a um entendimento mais profundo de si e dos outros.


O livro se funde entre passado e presente; é chegada uma hora que os personagens se confundem, até. São conversas de um terapeuta com seus pacientes em um fluxo de conhecimento e desenvolvimento mútuos.

 

Para os profissionais que queiram entender um pouco mais da dinâmica de grupos terapêuticos, essa é uma leitura bem esclarecedora. O grupo foi se fortalecendo ao longo do livro; seus personagens, conforme iam se abrindo mais e explorando possibilidades, fazem desabrochar a excelência terapêutica - um grupo caminhante.


Também achei fascinante a história de Schopenhauer, contada aos poucos no livro. Sinto como se tivesse lido uma biografia resumida, mas com detalhes importantes que me ajudaram a entender o gênio Arthur. O homem estava certo quando afirmou que:

O ser humano aprendeu comigo algumas coisas de que jamais se esquecerá.

Schopenhauer foi moldado por seu tempo, e temos muito a aprender com este filósofo tão importante.


Sobre o autor: Irvin D. Yalom nasceu em 1931, em Washington. Seus pais eram imigrantes russos que se estabeleceram nos Estados Unidos em busca de uma vida melhor. Desde criança, Irvin demostrava profundo interesse pelos livros; talvez tenha vindo daí a paixão pela escrita e a vontade de transformar em narrativa o precioso material que seu trabalho como psiquiatra lhe dava. Yalon escreveu também Quando Nietzsche chorou, Mentiras no divã, Os desafios da terapia, O carrasco do amor, Mamãe e o sentido da vida, De frente para o Sol e Cada dia mais perto, entre outros.


Referência: YALOM, Irvin D. A cura de Schopenhauer. 2ª. ed. Rio de Janeiro: Harper Collins, 2019.

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