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  • Foto do escritorDébora Palma

A vulnerabilidade é um ato de coragem

A professora e pesquisadora Brene Brown iniciou uma pesquisa sobre o sentimento de vergonha - e o que está por trás dele. Ela se deparou com dois tipos de pessoas: as que tinham forte senso de valor e as que passavam o tempo se questionando (minhas atitudes estão corretas? meu trabalho está bom? tenho um bom relacionamento? será que decepcionei aquela pessoa?) e percebeu que o primeiro grupo era mais seguro de si porque via a vulnerabilidade como parte essencial da vida. Eram, portanto, pessoas que agiam não para serem perfeitas em suas atividades cotidianas, mas que se dispunham a fazer algo para o qual não havia garantias.


Em seu Ted Talk "O poder da vulnerabilidade", Brene afirma que os momentos de incerteza e exposição nos deixam ansiosos e com medo. Tem gente que não se arrisca e não se expõe, e deixa de se abrir para novas experiências. Este é um medo comum, porque o novo nos deixa vulneráveis, descobertos, desamparados, despreparados - coisas que evitamos a qualquer custo! A coragem está em vivenciar o que é diferente, vivenciando aspectos sob outro ponto de vista. Inserir-se em oportunidades de troca (com o outro e com o meio) pode ocorrer tanto na vida pessoal como na vida no trabalho.


Falar de emoção!? Eu não!

No mundo corporativo, há o pressuposto de que mostrar sua vulnerabilidade é mostrar para o outro onde ele pode atacar. Existe uma sensação de fraqueza na exposição. Por esse motivo, ideias, projetos e possíveis soluções deixam de ser compartilhados. Além disso, temos a ideia de que lugar de emoção não é no trabalho, e que falar sobre isso nos torna diminuídos e incapazes de manter o controle. Para Mônica Barroso, diretora de aprendizagem na The School of Life, falta nas organizações um ambiente psicologicamente seguro para falar das questões emocionais, permitindo que as pessoas ajam de maneira mais vulnerável.

Mônica Garwood


Curiosamente, vivemos um paradoxo: ao mesmo tempo em que a cultura ágil toma conta nas empresas e populariza a ideia de "errar mais e mais rápido" e fornecer feedbacks constantes e sinceros, ainda existe a percepção de que não é fácil exigir isso quando o ambiente não é exatamente o mais seguro - punições ou reações agressivas quando ocorrem erros, atitudes intolerantes ou deboche dos colegas são exemplos que contribuem para a desmotivação de tratar de algumas questões. Quando a carreira está em risco, ou quando há o risco de demissão, pior ainda: a zona de conforto e o silêncio são as melhores opções. Mostrar-se vulnerável? Esquece! E a pessoa se fecha num circuito que pode ser improdutivo e penoso emocionalmente, mas que pelo menos lhe garante a continuidade em seu trabalho (ainda que isso possa acontecer a custos altos, como ter um burnout, por exemplo, ou começar a se maltratar emocionalmente, gastando energia se punindo por ter agido de certa forma).


Sou vulnerável, SIM!

A vulnerabilidade está ligada à coragem – se não aceitamos as falhas e ficamos só buscando culpados (em nós mesmos ou nos outros), fica difícil assumir riscos e se desenvolver. Perdemos o controle do que imaginamos ter sobre as coisas. Por isso é importante praticarmos a vulnerabilidade, assumindo uma postura de aprendiz com mais frequência - e ainda mais se considerarmos o quanto as relações são fluidas atualmente, e tamanha a necessidade de diálogo com pessoas tão diferentes!Isso nos obriga a deixar a zona de conforto (ainda que por pouco tempo), e nos forçamos a encontrar respostas criativas que nos obriguem a ser mais humildes e mais abertos. Adotar a vulnerabilidade é também uma ótima capacidade para ouvirmos o que os outros têm a dizer. Esta é uma habilidade que permite maior refinamento no trato com os outros e, por consequência, consigo mesmo. Acolher a vulnerabilidade não quer dizer se abrir para todo mundo independentemente das consequências. Parte importante do processo é perceber quais são os seus limites e possibilidade. Afinal, existem momentos em que, de fato, precisamos nos proteger.

Abbey Lossing


Seis mitos sobre a vulnerabilidade, com base no livro Coragem para Liderar (Brené Brown)


1. Vulnerabilidade é fraqueza. Ser vulnerável é uma condição que, ao assumirmos, nos torna mais fortes.

2. Eu não sou muito vulnerável. É impossível não ser vulnerável: ou você admite e lida com a vulnerabilidade, ou os medos que estão por trás te dominam.

3. Posso lidar com isso sozinho. Precisamos de conexão: é importante encontrar apoio – seja nas pessoas a nossa volta, seja com acompanhamento profissional, com um terapeuta.

4. Posso "gerenciar" a incerteza e o desconforto da vulnerabilidade. Não podemos confundir lidar com a vulnerabilidade com tirar o desconforto e mitigar os riscos de todas as situações. Devemos aceitar as incertezas como parte de nossas relações.

5. Confiança vem antes de vulnerabilidade. Às vezes, é necessário se arriscar e confiar para ser vulnerável – essa é a base para relações de confiança.

6. Vulnerabilidade é confissão. Não é para fazer revelações indiscriminadas ou fingir ter vulnerabilidade. É preciso ter limites e não confundir a postura com arroubos de confissões, manipulação emocional ou desespero.


Referência: NÓR, Bárbara. Abrace a vulnerabilidade. Você S/A. Edição 260, jan. 2020. p. 56-59.

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