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  • Foto do escritorDébora Palma

Comer emocional: como o descontrole das emoções leva ao descontrole no prato

Nesta postagem, vamos falar um pouco sobre como os momentos de crise influenciam na mudança de nossos hábitos, e porque pode surgir o descontrole alimentar.


Revisão de 24 estudos publicada no jornal científico The Lancet pelo Imperial College London, na Inglaterra: “o impacto psicológico da quarentena é amplo, substancial e duradouro”. Entre os fatores de tensão, estão: medo da pandemia, duração do confinamento, perdas financeiras, informações contraditórias.


Quando estamos diante de um perigo, nosso circuito nervoso é ativado. Herdado de nossos ancestrais, libera hormônios como adrenalina e cortisol na circulação. Com essas substâncias na corrente sanguínea, estoques de glicose são jogados no sangue - tudo para gerar mais energia e facilitar uma reação de defesa, luta ou fuga. No mundo moderno, não é diferente: nosso principal gatilho desse processo é o estresse. E, vamos combinar, o estresse não está em falta - nem em baixa - nesse momento atípico que passamos. Daí surge o consumo de alimentos de alta intensidade calórica, ricos em açúcares, gorduras e carboidratos.


A tensão, tristeza, insegurança, frustração, tédio e desespero ao passar pela crise faz surgir uma montanha-russa de emoções, e uma porção de gente é atraída por aquilo que os estudiosos chamam de comer emocional, que surge não para saciar a fome fisiológica e natural do organismo, mas para trazer conforto e alívio em momentos de difícil manejo.


Comida afetiva ou tentativa de preencher um vazio emocional?


Então, as pessoas começam a preparar receitas super apetitosas, açucaradas, gordurosas ou salgadas demais, tudo para elevar os níveis de dopamina e serotonina, neurotransmissores que atuam no sistema de recompensa, bem-estar e prazer. Não à toa, esse modo de comer, baseado na tentativa de lidar com os sentimentos, ocorre repetida e descontroladamente.


Se o brigadeiro, o pão na chapa com manteiga e o brigadeiro são comidas que remetem àquilo que é afetivo, não tem problema nenhum. Ruim é quando os episódios deixam de ser conscientes e se tornam corriqueiros demais. Além disso, quem s empanturra de comida em excesso em busca de conforto emocional sofre depois da ingestão, porque emerge um sentimento de culpa pelo descontrole.


Marcela Kotait (coordenadora da equipe de nutrição do Ambulatório de Anorexia Nervosa do Programa de Transtornos Alimentares - Ambulim - do Hospital das Clínicas em São Paulo): a forma de comer entrega muita coisa. Quem come com muita voracidade, sem prestar atenção no que está ingerindo e nem se preocupa com a velocidade da ingestão ou qualidade do alimento, não tem prazer na alimentação e não aprecia o momento de alimentar-se.


Por isso, para Kotait, se sai melhor nas crises (como a que estamos enfrentando agora) quem já tinha um vínculo mais profundo com a comida, o que lhes dá maior autonomia de escolha. Para as pessoas que viviam brigando com a balança antes da crise, o desafio é grande.


Claro que a moderação não é sinônimo de proibição: ainda vale aquele filme com pizza e vinho. O que importa é estabelecer uma relação significativa com a comida e com seu próprio organismo. Afinal, a boa alimentação refletirá no funcionamento orgânico e psíquico como um todo. As coisas só não ficam "ok" quando existe um exagero na comida sem a contrapartida da saciedade ou do prazer, e com o adicional da culpa depois de ter comido um bocado de coisas às quais você não estava acostumado. Vem o pensamento: "Por que comi tudo isso?".

Photo by Icons8 Team on Unsplash


A alimentação excessiva e/ou desregulada durante períodos de enfrentamento de crises pode levar ao ganho de peso, o que tem repercussões físicas e mentais. A insatisfação com as medidas corporais pode fazer surgir quadros de ansiedade e depressão, ou agravá-los.

Por isso, existem algumas dicas que podem ajudar a passar por momentos difíceis sem perdermos o foco em nosso bem-estar físico e, principalmente, mental:

  • Realizar um planejamento alimentar que não envolva apenas as refeições principais, mas os lanchinhos também

  • Deixar à mão frutas e snacks nutritivos para quando surgir um impulso muito grande pelo alimento

  • Manter o corpo hidratado (muitas vezes, confundimos fome com sede)

  • Manter os horários das atividades (como eram antes e na medida do possível), o que ajuda o organismo a manter o equilíbrio ao qual estava acostumado.

  • Apostar em outras atividades (um hobbie ou um projeto que tenha deixado pra trás em algum momento) que sirvam de válvula de escape, como fazer uma organização em um armário, tomar um banho quente, ler um livro do seu interesse ou praticar meditação.

  • Alimentar-se com atenção plena, prestando atenção nos ingredientes que está ingerindo.

  • Resgatar ou criar interesse na cozinha por meio do preparo de alimentos frescos.

  • Buscar ajuda de profissionais da saúde (nutricionistas e psicólogos) que tenham experiência em lidar com transtornos alimentares.


Compulsão ou descontrole alimentar?


Como podemos saber se existe uma compulsão alimentar ou se estamos apenas impulsivos em relação à alimentação como um todo (ou alimentos específicos)?


O primeiro ponto é: episódios de descontrole diante da comida não necessariamente significam uma compulsão alimentar. Uma compulsão é um quadro definido por *ataques de gula que levam a uma consumo de quantidade absurda de comida* (em alguns casos, a ingestão chega a 15 mil calorias). Ainda deve-se levar em conta a frequência dos acessos de exagero, e o diagnóstico acontece quando há, pelo menos, um episódio por semana durante, pelo menos 3 meses.



Referência: MANARINI, Thaís. Alimente-se sem perder o controle. Abril: Veja Saúde. Junho/2020. p. 30-35.

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