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  • Foto do escritorDébora Palma

Deixe a peteca cair - como conquistar mais fazendo menos

A leitura do mês de outubro foi ótima e inspiradora!

Li o livro da Tiffany Dufu - Deixe a peteca cair - como as mulheres conquistam mais quando fazem menos.

No dicionário, "deixar a peteca cair" significa falha; não conseguir cumprir uma tarefa. Para a autora, a mesma expressão significa libertar-se da crença irreal de que é possível fazer tudo sozinha e envolver os outros para alcançar o que é importante para nós, aprofundando nossos relacionamentos e nos enriquecendo como pessoas, estando mais alinhados com o que é, de fato, importante.


A leitura chamou minha atenção por vários motivos. O principal deles: existe a demanda para que as mulheres desempenhem vários papeis simultâneos (e, de preferência, que os desempenhem com perfeição). Como dar conta de tantos compromissos (pessoais e de trabalho) ao mesmo tempo, mantendo o nível de excelência tão propagado pela mídia, propaganda e cultura?


O livro aborda o sistema cultural profundo de estigmas sociais e de gênero. Por que as mulheres (esposas, filhas ou cidadãs) são mais ou até mesmo as únicas a cuidar do lar, das refeições, dos idosos, dos doentes, dos compromissos sociais... ou seja, fazendo tudo o que é tipicamente não remunerado? Ainda que mais homens estejam contribuindo para a criação dos filhos e a administração do lar, ainda não compartilham a mesma quantidade de trabalho e preocupação que gerenciar uma casa envolve.


sRomper com os estereótipos sobre os papeis domésticos é importante. Embora a mãe possa ser um modelo positivo para a percepção dos filhos quanto ao que as mulheres podem conquistar, o que seus filhos a observam fazendo em casa é ainda mais poderoso. Mas não é só no próprio lar que aprendemos isso. A cultura está impregnada de exemplos sobre como deveriam ser nossos papeis.

Desenhos como Os Flinstones e Os Simpsons retratam comportamentos bobos de homens da classe operária cujas esposas muito capazes e inteligentes são donas de casa impecáveis. Internalizamos as mensagens que vemos e ouvimos sobre como nossas famílias deveriam ser desde muito jovens.

E essas mensagens são tão poderosas que costumam influenciar nossas decisões mesmo antes de estarmos em posição de tomá-las. Os modelos que vemos em nossas famílias, tradições culturais e religiosas e na cultura popular transmitem às mulheres sem cessar a mensagem de que sua principal tarefa é cuidar dos outros - da família e da casa - e que, quando elas falham ao cumprir com essas obrigações, todos sofrem e ela será vista como incapaz. Nossa cultura é muito dura com os homens no que diz respeito a nossas expectativas quanto à sua capacidade no lar. Enquanto as mulheres são vítimas do estereótipo "mãe e mulher perfeita", os homens sofrem de um estereótipo igualmente prejudicial - o do pai inútil. O humor não ajuda a corrigir a divisão de trabalho desigual cultural no lar e, em última instância, as prejudicadas são as mulheres. As expectativas baixas em relação aos homens como maridos e pais, e a ideia de que nossos filhos e lares mal vão conseguir sobreviver à má gestão dos homens, tornam a vida das mulheres muito mais difícil do que deveria ser.


A autora relata suas dificuldades diárias como trabalhadora em período integral, mãe e principal responsável pela manutenção, limpeza e organização de sua casa. Logo percebeu que o caminho de ascensão profissional de seu marido estava desimpedido: ele não precisava preparar as refeições da semana, passar o aspirador de pó e nem se dedicar com tanto afinco aos cuidados com o bebê. E a situação se perpetuava porque ela nunca conseguiu comunicar suas necessidades, e assumia uma postura passiva. No entanto, sem expressarmos que queremos que os homens realizem determinada tarefa, sofremos, ficamos com raiva... e nossos parceiros não conseguem compreender onde estão nos decepcionando tanto.


No que diz respeito ao lar, muitas mulheres sentem uma necessidade compulsiva de controlar, de garantir que tudo seja feito de modo específico - o nosso. A autora chama isso de síndrome do controle do lar, ou SLC. Controlar tantas coisas sozinha passa uma mensagem para o marido: "não confio que você dará conta das tarefas de casa sozinho". O que as mulheres acham que os homens em suas vidas conseguem e não conseguem fazer - e as mensagens que enviamos a eles sobre nossas crenças - influencia seu comportamento. A busca pela perfeição é um traço comum em várias mulheres que também têm carreiras ou trabalhos integrais, pois há uma sensação de que devem ser impecáveis tanto no ambiente doméstico quanto no profissional. Como muitas mulheres internalizam a ideia de que devemos ser autossuficientes nas atividades do lar enquanto nossos maridos atuam como os provedores, pedir ajuda parece fraqueza ou incapacidade de assumir nossa razão de ser. Quando já temos muito o que fazer, delegar parece mais uma tarefa em nossa longa lista de afazeres; por isso, seguimos em frente sem pedir ajuda. Isso se transforma num hábito perigoso, que nos atrasa e atrapalha em diversas áreas da vida.


O primeiro passo para abrirmos mão do SLC e termos um relacionamento melhor com nosso parceiro, com nós mesmas e com nosso trabalho é definir o que é importante para nós, o que conseguimos fazer de melhor e delegar com alegria, ou seja, mostrando ao outro que a realização daquela tarefa específica contribuirá com o seu bem-estar e também para ajudá-la com sua paixão e propósito. Pedir ajuda para conquistar o que é mais importante para você é uma situação em que todos ganham. Quando pedimos ajuda, costumamos fazê-lo com ressentimento ou preocupação; às vezes, é simplesmente doloroso pedir ajuda, porque nos achamos fracos. Mas quando estamos focados naquilo que é realmente importante para nós, passamos da delegação com ressentimento para a delegação com alegria. Esperar menos de nós mesmas e mais de nossos maridos exige não só que passemos a tarefa para eles, mas também que resistamos ao impulso de fazê-la nós mesmas, quando eles não correspondem.


Quando confiamos na ajuda recebida, e realmente deixamos que nosso parceiro faça as coisas do jeito dele, os benefícios são muitos e diversos. A forma diferente como cada um resolve problemas é uma coisa magnífica. Aprendemos que nossos maridos podem ser muito melhores em algumas tarefas do que nós - além de as desempenharem com gosto e cuidado. Enquanto as mulheres não pararem de transmitir três mensagens a seus maridos, a parceria total não será possível - e elas continuarão sufocadas na enorme lista de afazeres. São as mensagens: "ele não dá conta dos detalhes"; "ele nunca está em casa" e "ele não sabe o que é melhor para nossos filhos". Quanto menos competente de achar um homem, menos motivado ele será para passar tempo com a família e os filhos.


No estudo sobre mulheres que ocupam ou costumavam ocupar um cargo de diretora executiva numa empresa da Fortune 500, eles observam que "muitas das CEOs disseram que não teriam conseguido chegar lá sem o apoio do marido, ajudando com os filhos, as tarefas da casa e estando disposto a mudar de cidade".


"Homens que participam no lar têm mais empatia pelas mulheres porque têm a experiência da própria roda da vida. Essa empatia ajuda a alimentar nossas ambições e leva-os a redefinir o próprio papel como homens. Homens que têm filhas são mais favoráveis a prática corporativas e políticas públicas que têm o objetivo de promover mulheres. A parceria total garante essa realidade também para homens que têm esposas. Homens que tentam se dedicar à própria carreira enquanto marcam a visita do encanador e ajudam as crianças com a lição de casa apresentam uma compreensão maior da luta de suas colegas no escritório e de outras mulheres em suas vidas. Mais importante do que tudo isso: homens envolvidos no lar são mais capazes de deixar a peteca cair em relação às expectativas que a sociedade estabelece para eles também". (p. 259).


Pela própria experiência, a autora afirma que mães que almejam alcançar o topo de suas carreiras precisam ter muita clareza daquilo que lhes é mais importante, entender qual o melhor uso de seus talentos, delegar com alegria e priorizar a própria felicidade e sucesso. Desenvolver um ecossistema propício ao desenvolvimento pessoal e profissional é benéfico para a família toda. Abandonar o mito da "Supermulher" e confiar que nosso parceiro é tão capaz (ou mais) do que nós para a realização das tarefas cotidianas estabelece um vínculo duradouro de confiança que impulsiona a ambos.









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