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  • Foto do escritorDébora Palma

Eu sei que não deveria, mas posso comer mais um pedaço de bolo? 🍰


Esse é o tipo de pensamento ligeiramente culpado que, segundo Freud, é parte inseparável da nossa vida. O tempo todo os desejos emergem e são julgados em uma rápida discussão interna, e só então decidimos o que fazer. E a razão para isso, de acordo com Freud, é que a mente desenvolve três processos conflitantes dos quais ninguém escapa: o Id, o Ego e o Superego. Na maior parte do tempo, nem sequer estamos cientes do que esses três estão fazendo – apesar de eles controlarem tudo o que dizemos e fazemos.


Freud se desafiou a descrever com precisão a estrutura da mente e seu funcionamento, apesar da total ausência de ferramentas científicas para a tarefa. Para isso, ele propôs a “cura pela fala”, que depois se tornou conhecida como psicanálise, cujo principal ponto de partida é que desconhecemos grande parte do que ocorre em nossas mentes: não sabemos o que estamos pensando e muito menos por que estamos fazendo aquilo que fazemos.


Damos justificativas plausíveis sobre o porquê escolhemos determinado emprego, parceiro ou casa, mas não nos aprofundamos nas causas dessas escolhas, de acordo com Freud. Nossos motivos, aparentemente irracionais, são apenas a história que o Ego teve de engolir.


As instâncias mentais: Id, Ego e Superego


O Id é a mente com que nascemos. É agitada e cheia de demandas que devem ser satisfeitas: beber, urinar, defecar, manter-se aquecida, comer – em suma, satisfazer desejos do corpo que, quando não satisfeitos, levam ao desagrado e ao comportamento de demanda acentuado. O Id é regido pelo princípio do prazer: “quero prazer aqui e agora!”.


A eterna conversa que se desenrola na mente envolve as instâncias do Id, Ego e Superego: Freud acreditava que só uma pequena parte da mente humana era consciente; o inconsciente, a maior parte da mente humana e que controlava o comportamento e a vida das pessoas, deveria ser explorada.


Essa fase, para Freud, permanece para sempre conosco. Entretanto, conforme cresce, o bebê percebe que não consegue satisfazer todos os seus desejos, pois existe uma realidade que atrapalha, que está no seu caminho. O Ego compreende as circunstâncias do mundo externo e avalia quando as necessidades do Id podem ser satisfeitas.


Além de estar atento às demandas do Id, o Ego se comunica com o Superego, a última instância que surge no desenvolvimento do ser humano. Trata-se da parte que internaliza as “regras” do mundo, conforme transmitidas na infância – primeiro pelos pais, depois pela sociedade e, por fim, por figuras de autoridade nas quais o indivíduo passa a confiar.


Um típico conflito entre o Id e Superego, seria este:


😜 Id: Quero comer um chocolate!

😤 Superego: Está maluco? Essas calças nem estão mais te cabendo! Você deveria estar se exercitando!

😐 O Ego se posiciona entre essas duas vontades em conflito, uma insistindo na satisfação simples e direta do desejo (comer o chocolate) e a outra fazendo críticas violentas e ele.


O Superego não é sábio nem filosófico, ele apenas internaliza um sistema de “regras” aprendidas sem questioná-las; essa formação psicológica servirá como uma espécie de “programação” de fundo para o resto de nossas vidas, nos informando o que devemos ou não fazer. Um Superego inflexível leva ao sofrimento, pois o indivíduo não consegue realizar jamais seus desejos, reprimindo-os constantemente.


O Superego desfere críticas violentas. O Ego procura repelir seus ataques ao mesmo tempo que examina o mundo externo para avaliar a situação real e buscar formas de apaziguar o Id, ajudando-o a aceitar uma perda ou dando o que ele quer (atendendo o Id). Ou pode resistir ao seu desejo (atendendo o Superego).


Esta seria uma representação do diálogo das instâncias. O pobre Ego é responsável por entregar a melhor resposta possível diante de demandas frequentemente contraditórias.


Quando os desejos do Id são inaceitáveis, como “Quero fazer sexo com ela”, “Quero matar aquele homem!”), os mecanismos de defesa entram em ação, banindo alguns dos nossos pensamentos e escondendo-os de outras pessoas. Os mecanismos são inconscientes e visam evitar a geração de ansiedade excessiva por nossos pensamentos e impulsos.


Existem alguns mecanismos bem comuns:

  • Negação – negar para si que nada aconteceu

  • Projeção – direcionar a raiva em relação ao objeto real para outro objeto ou pessoa (você poderia pegar uma cadeira e chutá-la)

  • Deslocamento – expressar sentimentos totalmente opostos aos que sente e tratar a pessoa do modo mais amigável possível.

Seja por medo do mundo externo ou por medo do Superego, é a angústia que põe em movimento o processo defensivo - Anna Freud

Para Freud, sempre que administramos bem o conflito externo/interno, fizemos um esforço grande para conter nossos impulsos destrutivos repelir as críticas do Superego. O resultado é um estado de ansiedade, depressão e problemas psicológicos (que ele chamou de “neuroses”). Para ele, a única cura consistia em contornar as defesas e retornar ao desejo original, compreendendo-o e aceitando o inaceitável.


Por que psicanálise?


A psicanálise é a busca daquilo que está na “penumbra”, ou seja, além do alcance da nossa mente racional. Por isso, certamente seria crítico das abordagens comportamentais, que pressupõem que os problemas psicológicos podem ser resolvidos ao se abordar apenas os sintomas conscientes.

Quando o viajante associa no escuro, pode estar afastando o medo, mas não enxerga com mais clareza apenas porque assoviou – Freud

Referência:

Adaptado de: TOMLEY, Sarah. O que Freud faria? Rio de Janeiro: Sextante, 2020.

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