top of page
Buscar
  • Foto do escritorDébora Palma

O estresse de "ficar de fora" e o sentimento de abandono

Fear of Missing Out é um termo novo para algo que sempre existiu: o medo de ficar de fora. As redes sociais, porém, elevaram o estresse a um patamar inédito. Entenda melhor o FOMO, e veja como não cair nessa armadilha.

Você já percebeu que, nos dias em que fica muito tempo nas redes sociais, não se sente sossegado, mesmo que estivesse bem antes de ter acessado? Seu dia estava OK, você estava produtivo, realizou suas tarefas mais importantes no trabalho; até que, chegando em casa e em momento de descanso, acessa as redes e o sentimento de angústia e amargura emerge. Pior ainda quando ficamos em nossas redes à noite: dormimos mal, ficamos obsessivos com certas ideias ou pensamentos, e acordamos pior. O que aconteceu com todo o nosso bem-estar que estávamos vivenciando?

Às vezes, está tudo bem conosco... até que começamos a nos inteirar dos acontecimentos nas redes sociais. O que nossos amigos estão fazendo? Com quem estão saindo?

Às vezes, confundimos esses acontecimentos com ansiedade ou depressão, mas podemos estar vivenciando FOMO, ou “medo de ficar de fora”. Trata-se de uma sensação ruim: ao perder o happy hour da empresa, uma viagem em família ou um encontro entre amigos. Em suma, um estrese súbito por estar perdendo alguma experiência valiosa.

FOMO é um nome novo para algo antigo. Marco Túlio Cícero, político romano que viveu no século 1 a.C., sofria de um FOMO terrível. Toda vez que ele saía da capital, fazia questão de receber cartas sobre eventos políticos e até mesmo fofocas que aconteceram enquanto estava fora. Queria estar por dentro de tudo!


O conceito de FOMO, que começou a ser estudado recentemente, já era abordado pela psicologia social ao estudar a conexão social. Humanos são animais sociais, e a habilidade de cooperarmos uns com os outros e formar grupos foi o que garantiu nossa sobrevivência – e permanência – da espécie. Por isso, a evolução nos compensou: quando temos uma interação social satisfatória, a via mesolímbica do cérebro é ativada, liberando dopamina, um dos principais neurotransmissores relacionados à sensação do prazer.

Se, na pré-história, ser deixado de lado significaria morrer ou ser devorado por um animal ou outra tribo, o melhor a ser feito era permanecer em um grupo, não é mesmo? Por isso, se sentir excluído (naqueles tempos e também hoje em dia), era uma sentença de morte. A exclusão social dói. As pesquisas da psicóloga Naomi Eisenberger, da Universidade da Carolina do Norte (UCLA), mostraram que a rejeição social ativa o córtex cingulado anterior – uma das regiões do cérebro relacionadas à dor física. expressões como “machucar os sentimentos” ou “corações partidos” não poderiam ser mais precisas.

A ascensão do FOMO

O termo “Fear of Missing Out”, com todas as letras, surgiu pela primeira vez em um artigo científico publicado no ano 2000. Não era de psicologia nem de neurociência, mas de marketing. O estrategista Dan Herman escreveu no Journal of Brand Management, um periódico com textos acadêmicos sobre o mundo dos negócios, sobre como usar o medo de ficar de fora para vender produtos. E funciona! Você não se sente mais impelido a comprar alguma coisa (mesmo que nem precise dela!) depois de ver um e-mail com o anúncio “Última chance para comprar!” e “Não fique fora! Adquira já!”? Eis o surgimento de uma compra compulsiva.

Estímulos demais, eventos demais, acontecimentos interessantes demais... e você aí! O sentimento de estarmos desconectados ou não sermos percebidos pelos outros nos traz enorme sofrimento.

“Fear of Missing Out” só pegou quando virou sigla – FOMO. Quem criou não foi Dan Herman, mas um aluno de administração de Harvard, Patrick McGinnis. Em 2004, ele escreveu um artigo para o The Harbus, o jornal estudantil da Harvard Business School, e cunhou ali a primeira menção à sigla FOMO. E nem era um texto sobre negócios, mas falava sobre um estudante que participa de oito eventos em uma única noite, na tentativa de encontrar o máximo de pessoas possível. Bem o que alguém com FOMO faria.


A sigla foi ganhando fama no boca-a-boca, como acontece com as boas marcas. Com o tempo, virou queridinha dos autores chegados a identificar novas tendências. Sites como o Huffington Post, BuzzFeed e Mashable abusaram dela, até que a sigla acabou sendo publicada pelo New York Times e ganhou status internacional.

InstaFOMO

O medo de ficar de fora só surge quando você sabe que pode estar perdendo algo. E nada é mais eficiente nessa tarefa do que as redes sociais. E não é à toa que a explosão no uso do termo acompanhou a cronologia das redes.

Vale lembrar: é diferente da inveja que sentimos quando vemos fotos de influenciadores em lugares paradisíacos. O medo de ficar de fora só aparece com a sua “tribo”. Quanto mais próxima for a pessoa, pior o sentimento.

O sentimento aparece mais ao fim do dia e nos finais de semana, pois, além de ser o momento em que as pessoas costumam sair (afinal, #sextou), também é quando mais acessamos as redes sociais para nos distrair.

Vira um processo retroalimentado. Primeiro, vem a sensação de que você está sendo deixado de lado – um gatilho provocado por posts no Instagram, Facebook, WhatsApp. Depois, uma vontade compulsiva de manter a conexão com o grupo, também por meio das redes sociais (Como se estivesse dizendo “Oi! Também estou aqui”).

Ou seja: as redes sociais despertam o FOMO; você tenta aliviar o FOMO entrando nas redes sociais, e ganha mais FOMO de presente.

O FOMO, no fim das contas, é inevitável: faz parte dos nossos instintos primordiais. E a realidade online estimula esses instintos numa velocidade nunca antes vista. Por outro lado, a mesma ciência que estuda as raízes do FOMO traz ferramentas para que se lide melhor com o sentimento.

Joy of Missing Out

Os sintomas do FOMO equivalem a de um coração partido: um sentimento inerente à experiencia humana, mas que é vivenciado de formas diferentes por cada um de nós. Segundo Anna Lúcia Spear King, psicóloga do Instituto Delete (especializado em detox digital), o perfil de quem sente mais FOMO costuma ser o de pessoas inseguras, tímidas, com baixa autoestima e maior dependência emocional. O sentimento pode levar à nomofobia, termo que batiza uma espécie de pavor irracional de ficar sem o celular.

Não existe uma receita de bolo para lidar com o FOMO, mas uma boa ideia é começar atacando o que está por trás do problema. Na terapia, conforme a pessoa vai sentindo mais segurança – em si e nos outros –, pode escolher não aceitar aquele compromisso.

Isso significa prestar menos atenção ao que acontece no mundo exterior, e cuidar melhor do seu mundo interior. Práticas como foco em si mesmo e meditação, além do estabelecimento de limites no acesso às redes sociais (principalmente antes de dormir), pode colaborar com sua saúde física e mental.

Aprendermos a nos conectar com nós mesmos, entendendo nossas necessidades ao mesmo tempo que fortalecemos nosso senso de "eu" é uma postura poderosa de enfrentamento do FOMO

No fim das contas, o importante é aceitar que você sempre estará perdendo alguma coisa. Não há como abraçar tudo de uma vez só.

Em oposição ao FOMO, um termo que se popularizou recentemente foi o JOMO: Joy of Missing Out, ou alegria em ficar de fora. É algo simples: aproveitar o presente e focar nas pequenas coisas que te deixam feliz. Afinal, quanto mais tempo passamos nas redes sociais, menos tempo de vida nós temos. Uau! De vida? Isso parece muito impactante. E deveria ser mesmo. O tempo é escasso, a vida é finita, e precisamos escolher bem com quem ou com o quê vamos gastar nossos recursos (internos e externos) tão preciosos. Pensem nisso!

Texto adaptado de "A epidemia de FOMO", escrito por Maria Clara Rossini. Superinteressante, Abril de 2022, p. 52-7.

Posts recentes

Ver tudo

#1 - A única coisa - cap. 1

Este é um dos livros mais interessantes que eu conheço sobre produtividade e gestão do tempo. E aqui vai um resumo do primeiro capítulo...

© Débora Palma 2023.

bottom of page