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  • Foto do escritorDébora Palma

Os egoístas se divertem mais?

Crianças precisam ser socializadas em sua cultura para que se “adaptem” e prosperem, em vez de serem vistas como excêntricas e desajustadas. A responsabilidade por essa socialização cabe primeiro aos pais, que devem ensinar seus filhos para saber “como o mundo funciona”.

Para a psicóloga Dorothy Rowe, a palavra “boa” depende do contexto social, cultural e religioso. Ou seja, os ensinamentos e os comportamentos são variáveis.


As crianças são rápidas aprendizes: logo captam os sistemas de regra da família – e como devem cumpri-las. Quando as repreensões verbais (ou físicas) acontecem, são internalizadas pela criança com um sentimento de culpa. Ao longo do tempo, ela pode achar que não se encaixa no padrão socialmente estabelecido: chegar lá é praticamente inalcançável. Além disso, as diversas narrativas, filmes, desenhos e livros trazem a ideia de que o “bom” triunfa sobre o mau, e surge a percepção de que pessoas boas triunfam, e pessoas ruins sofrem - o que pode devastar a autoestima do sujeito quando algo ruim acontece, pois ele passará a se considerar "mau" ou merecedor do sofrimento. A única forma de se livrar da tirania é quebrando alguns paradigmas e fortalecendo sua autonomia.



Para Rowe, existem dois grupos de pessoas:


  1. Pessoas que optaram por ser “ruins” e se rebelaram de modo deliberado estão em território familiar e se sentem felizes, embora seja possível dizer que agem de modo egoísta ao viver como querem e segundo as próprias regras.

  2. Pessoas que estão tentando ser “boas” e depois entram em conflito com as regras (criadas por outras pessoas) enxergam a si mesmas como fracassadas – e concluem que não são boas o suficiente. Mesmo adultas, quando as "pessoas boas" sofrem uma perda ou dano, sentem que, em algum nível, devem ter merecido aquilo, porque coisas ruins só acontecem a pessoas ruins. É a punição que recebem por não estarem "a altura". A sensação de inadequação sentida por essas pessoas, para Rowe, leva a depressão. Ao buscar uma razão ("Por que eu?") diante de algum incidente (por exemplo, um acidente de carro), quem tem a ideia de que as ocorrências são de causa e efeito, chegará à conclusão inevitável de que deve ter merecido o que aconteceu.

Para sermos felizes, não devemos nos preocupar demais com os outros - Albert Camus

"O psicólogo Melvin Lerner examinou nossa crença no “mundo justo” e descobriu que defenderemos essa ideia mesmo diante de todos os indícios contrários. Na verdade, chegaremos a mudar os fatos para que se encaixem nessa narrativa. Em 1966, a psicóloga Carolyn Simmons realizou um experimento clássico em que pessoas viram imagens de uma mulher aparentemente recebendo choques elétricos dolorosos por não fornecer respostas certas a perguntas que eram feitas a ela. Quando tiveram a chance de interromper os choques, assim fizeram; porém, ao serem informadas de que não poderiam fazer nada para intervir e que teriam de ficar sentadas assistindo, mudaram a opinião sobre a mulher torturada. Ela deve merecer esse castigo, disseram. Não era realmente uma vítima inocente. Não podia ser (o mundo é justo). Devia haver uma correlação entre seu destino e seu caráter – como não era possível mudar seu destino, mudaram seu caráter."


Tomley, Sarah. O que Freud faria?: Como os grandes psicoterapeutas podem ajudar a resolver problemas cotidianos (pp. 64-65). Sextante. Edição do Kindle.


Gostamos de acreditar que o mundo é organizado, tem regras e leis - e de que podemos estar de acordo com elas e sermos beneficiados do sistema caso estejamos de acordo com elas. A crença na previsibilidade pode levar à submissão ou à inação (como bem pudemos ver no caso acima), e sacrificamos o que temos de mais valioso para manter intacto o mito de que o mundo é justo, seguro e familiar.


Os "maus" e "rebeldes" que aceitaram a incerteza

Os "rebeldes" podem ser os que mais estão se divertindo, pois não se deixam levar pelo mito, e escrevem a própria história. Abandonaram a necessidade de certeza e enxergam o que de fato está acontecendo, sem se martirizar diante de infortúnios: para essas pessoas, mais "egoístas", não existe resposta à pergunta "Por que eu?", pois o mundo não é constituído por um conjunto previsível e simplificado de regras, mas por experiências mutáveis e situações constantemente desafiadoras.






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