Em 1936 o grande psicoterapeuta Carl Jung escreveu: “Com o tempo, ficou claro para mim que deve haver duas atitudes fundamentalmente diferentes que dividiriam os seres humanos em dois grupos [...] as quais denominei [...] extroversão e introversão.” Esses dois grupos têm focos e formas distintas de recarregar suas baterias: os extrovertidos gostam de se relacionar com o mundo externo e obtêm energia em meio às outras pessoas, enquanto os introvertidos voltam-se para o mundo interno, subjetivo, e repõem as energias “ficando sozinhos”.
O MBTI (sigla em inglês para Indicador de Tipo Myers–Briggs) é um teste que mapeia 16 tipos de personalidade diferentes que faz sucesso: anualmente, são 3,5 milhões de aplicações no mundo.
O MBTI foi desenvolvido a partir do modelo inicial de Jung, que acreditava que nosso comportamento aparentemente aleatório ganha sentido se o considerarmos a partir da forma como processamos informações.
Os extrovertidos são mais influenciados pelo ambiente. Por isso, uma frase comum é: “Olhe! Este são os fatos!”
Os introvertidos são influenciados pelas próprias intenções e pensamentos. São pessoas que costumam ter mais momentos de introspecção e abstração: “Mas eu acho que/Eu penso que...”
Hoje, o MBTI é mais abrangente, e avalia mais aspectos da personalidade de uma pessoa para chegar num “todo” sobre sua forma de viver e decidir.
As pessoas extrovertidas estão focadas no mundo externo, e tirando proveito de seus estímulos. Os introvertidos gostam de analisar a si mesmos, e precisam de um tempo na própria companhia para recarregar suas baterias.
No MBTI, quatro pares de oposição são analisados:
Você prefere se concentrar no mundo externo ou interno? (Extroversão versus introversão)
Voce prefere concentrar-se no sentido básico ou na interpretação e acréscimo de sentido (Sensação versus Intuição)?
Decide pela lógica e coerência ou pelas pessoas e circunstâncias (Pensamento versus Sentimento)?
Suas decisões são rápidas ou você permanece aberto a novas informações (Julgamento versus Percepção)?
O tipo INFJ, por exemplo, é alguém cujas características são Introversão, Intuição, Sentimento (Feeling) e Julgamento. Essa personalidade é conhecida como Advogado, com uma série de características como idealismo, criatividade, introversão, busca relacionamentos profundos, gosta de livros etc.
Experimente você mesmo: faça o teste 16 Personalities aqui.
Introversão e extroversão têm a ver com recarregar baterias
Introvertidos sentem-se aliviados quando estão consigo mesmos, sem muitos estímulos. Eles se beneficiam de tempo para refletir e analisar. São ótimos ouvintes e escritores. Já os extrovertidos adoram conversar, preferem agir a pensar e estão em busca de situações de adrenalina.
A neurociência
Os extrovertidos são programados para prestar mais atenção em rostos, e liberam intensamente o neurotransmissor dopamina, responsável por sensações de alegria e bem-estar. Essas pessoas também processam informações por vias cerebrais mais curtas e velozes do que os introvertidos, e são bastante estimulados pelas sensações (visão, audição, paladar, tato). Ao mesmo tempo, não são sensíveis à adrenalina – o que os faz viver atrás de estímulos para ter a adrenalina necessária em suas vidas.
Já os introvertidos têm um fluxo sanguíneo maior para o cérebro, e percorre um trajeto mais complicado durante o processamento de informações, atingindo áreas cerebrais relacionadas a experiências internas, como memória, planejamento e solução de problemas. Além disso, são pessoas muito sensíveis à dopamina. Por isso, basta um pouquinho de estímulo para que elas se sintam superestimuladas. Ou seja, uma festa pode ser bastante desgastante para esse tipo de personalidade, que tem como principal neurotransmissor a acetilcolina, responsável por uma sensação de calma e relaxamento, favorecendo a memória, o aprendizado e a flexibilidade cognitiva.
Retirar-se para dentro de si mesmo não é uma renúncia final ao mundo, mas uma busca por quietude, na qual, sozinho, conseguirá contribuir com a vida da comunidade - Carl Jung
Não existe um estilo de personalidade “melhor” ou “pior”, mas pessoas com necessidades diferentes que devem buscar ambientes nos quais suas qualidades sejam potencializadas.
Então está tudo bem se você se sente recarregado na companhia de uma caneca fumegante de café e livros – muitos livros. E tudo bem também se todos os seus fins de semana estiverem preenchidos com atividades radicais com os seus amigos.
Principais características dos extrovertidos e introvertidos, de acordo com a neurociência:
O mundo seria um lugar de infelicidade se nele só habitassem pessoas de um ou outro tipo. É no contato com o outro que a gente percebe nossas potências – e consegue fazer escolhas de vida mais alinhadas com as nossas necessidades.
Seu mundo é um porto seguro, um jardim cuidadosamente cultivado e protegido [...] Seu melhor trabalho é realizado com os próprios recursos, por iniciativa própria e da própria maneira – Jung
Adaptado de: Tomley, Sarah. O que Freud faria?: Como os grandes psicoterapeutas podem ajudar a resolver problemas cotidianos.
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